quinta-feira, 3 de julho de 2014

Três de Julho

Estou há quase 72h sem dormir. De ontem pra hoje, minha mãe precisou ser socorrida por conta de uma virose fortíssima, segundo o médico. Já foi medicada e passa bem. Depois de uma noite em claro (pois fiquei de atalaia, na cama dela na intenção de ver qualquer reação), fui ao trabalho, e, apesar de estar “beirando” minhas férias que começam sexta-feira, sinto-me fadada ao cansaço eterno (risos). 

Bem, chegando ao trabalho deparo-me com “N” questões para resolver. Entre uma coisa e outra, começamos a conversar, eu e uma senhora que aparentava ter seus quase sessenta anos. No início, a conversa parecia sem fundamento, só pra passar o tempo.
Nesse vai e vem, ela deixou escapar: “tenho essa idade, e não há como falar do meu pai sem me emocionar; eles não estão mais aqui, nem pai e nem minha mãe, sou filha de pais separados, e ainda sinto falta do meu pai que se separou de minha quando eu ainda tinha nove anos de idade. Tive que assumir meus irmãos para que ela pudesse trabalhar, não tive o tempo deles”, percebi que tínhamos entrado num assunto tão profundo que até mexia comigo, e me comoveu sobremaneira – estava quase ás lágrimas também. Questionei o motivo, ela me disse que existem papéis que o pai exerce que não cabe à mãe, e vice-versa. Funciona como uma forma de contrapeso, pelo que entendi. Completei: "é, você tem razão, talvez se meu pai tivesse aqui, teria tomado outras decisões...”, “uma coisa é perdê-lo por obra do destino, doença, como foi o seu caso, outra coisa é: ele escolher ir”, disse ela. Respirei fundo. A conversa foi interrompida por afazeres que não podiam esperar.

Dissimulei aquelas palavras... Esquadrinhei...
O que torna o ato (de ir) desumano e indigno é o fato de que, quem resolveu ir teve a chance de escolher ser – nesse caso, ser pai -, e não deu a chance do outro escolher ser (o filho). Como se fosse possível escolher ser pai e escolher deixar de ser, depois de ter colocado uma "cria" no mundo. Certa vez questionaram-me se eu queria ser mãe. “óbvio”, respondi. Entretanto, antes disso, quero que meu (possível) filho tenha o que ele merece ter, entre educação, lazer e bem-estar, uma família. Independente dos desencontros, muitas vezes monstruosos que a vida traz. Enfim, não podia deixar passar em branco.
Anseio o dia em que a sociedade - que luta desenfreada por seus direitos -, possa reaver seus deveres ardentemente como quem não foge à luta.

Por Evilin Melo