segunda-feira, 23 de julho de 2012

Esconderijo


Acontece que existem dias que você se vê tão só. E por mais que você explique pra alguém a sua dor, é inútil. Ninguém é capaz de sentir de verdade o que acontece quando você chora e passa horas com o pensamento distante, apenas balbuciando os lábios. Nesses dias tudo que te lembra uma dor é um motivo pra mais lágrimas e mais lágrimas. Momentos como esse podem até ser raros, mas quem quer senti-los? Eu mesma não. Mas eles estão aí, vão e vem a toda hora e por mais simples que sejam, mexem com a gente, e pior, com a alma da gente. Mas, acredite, há um segredo nisso tudo, que mesmo em tempestade dentro de si, você pode obter a calma, a paz. Há um lugar que poucos conhecem e menos ainda sabem desfrutá-lo. Com uma palavra, uma lágrima, inclusive, você de alguma maneira chega nele. Com um pensamento, uma canção e com o gesto de se pôr de joelhos,  mesmo significando humilhação, te leva pra esse lugar tão alto. É ali que o coração descansa, e as nossas emoções ficam seguras. Eu achei esse lugar, e é tão bom estar lá... Eu me escondi lá, no mais alto, habitação do Rei. Lá ninguém me cerca, me prende, me tira o que é meu. Lá eu não tenho medo de estar só, de chorar e não ser compreendida, de não poder ser ouvida, não. Lá eu sou uma princesa, e tenho um vestido lindo, pérolas lindas, sou bem perfumada. Por mais que seja tão alto, não é dificil de chegar lá,  você acha o caminho  em segundos se você acredita que ele existe. Não pergunte-me como, experimente.


Além de mim - Dedico à Kamylla Gayão.

Por Évilin Melo

domingo, 15 de julho de 2012

Viagem Marcada


Quando marcamos uma viagem, nossa expectativa quase não nos deixa tranquilos. São tantas coisas pra organizar, e mala pra arrumar, sem falar do lugar, o qual foi escolhido como destino, se for desconhecido?  Existem fatores que influenciam ainda mais essa ânsia como clima, comida, transporte, hospedagem.  E mais, se a viagem for sem acompanhante? Esses detalhes são comuns a nós, são tão comuns que quando você ouve alguém falar das sensações, parece até que aquela pessoa andou expiando sua mente. A verdade é que todos criam expectativas quando o assunto é viajar. Porém dentre elas surge um sentimento que nos confunde constantemente e que se não for interrompido, ele te acorrenta, e tira o prazer da viagem. Ele costuma ficar misturado, no meio de sua bagagem, daquilo que você tem de bom, ele frustra as boas sensações e ofusca a beleza do que era pra ser prazeroso.  O medo é o pior aliado de alguém. Ele sabe o significado que a viagem pode ter na vida de uma pessoa. Tanto de quem viaja, como de quem abraça a chegada do viajante. E antes de partir ninguém tem noção do que pode acontecer durante a estadia em terras distantes. O medo é um sentimento que nos é proposto como todos os outros, mas isso não significa que ele tem que estar entre os elementos da nossa mala, podemos decidir enfrentá-lo que é a melhor forma de fazê-lo morrer – aprendi por esses dias, em poucas letras, que a postura de não desistir mesmo que as sensações estejam a mil por hora, faz cantar o coração – saber que é possível derramar sobre alguém justamente o que está em falta pra ela, de repente é tão pouco e tão normal, “lá em casa”, todos já estão acostumados, mas não podemos esquecer que esses mínimos detalhes tocam o coração. E é assim que aprendemos, misturando, plantando, colhendo, uns com os outros. Um dia ouvi uma frase de Amyr Klink, “Pior que não terminar uma viagem é nunca partir”. Já parou pra pensar quantas oportunidades perderíamos se não descobríssemos a força e determinação que possuímos; nunca nos deixar descobrir, ou não ir em busca da descoberta? 
Existem coisas que são comuns a nós, como havia citado no início do texto. Contudo outras coisas pertencem ao condutor dessa viagem, sabendo que dEle provém a certeza que estaremos seguros em cada parada, e levaremos pra casa, uma soma de tudo que o medo nos quis tirar e que com certeza serve de lição tanto pra atual viagem como para outra em  tempo futuro. Em suma, vale a pena viajar com tanta adrenalina para salvar outros e levar de volta pra casa uma boa recordação.

Além de mim - Dedico à Gizele Sarmento

Por Évilin Melo

domingo, 1 de julho de 2012

Aquela Velha Menina


Aquela velha menina resolveu aparecer ontem por aqui. Saudades eu não tinha, apesar do tempo que ela já não se fizera presente. Mas o medo era a única coisa que eu sentia. Eu a não queria por perto, mas quando ela chega, nem dá tempo de fechar a porta, ela é muito sutil; quando ela insistia em aparecer passava dias e até meses. E já não há espaço pra nós duas, uma das duas tem que ir embora quando ela esta presente e nesse caso, era eu. Isso não é um filme de terror, mas é bem parecido, lhe garanto. Não queira jamais ver o estrago que ela faz. Tira-te a vida. Lembro-me a primeira vez que esbarrei com ela. Nossa! Que força de leão! E é sempre assim quando ela chega. Carrega consigo uma carga enorme sobre os ombros, mais parece uma trouxa de roupas. Eu nunca soube como lidar com ela, isso não quer dizer que hoje sei. Mas como eu havia citado, ela tão sutil que a gente acaba cedendo e sem querer criamos vínculos. Sujeitei-me aos seus caprichos e ao seu tempo. E a via por várias vezes chorar suas mágoas, seus traumas, sua dor, seu amor. Aliás, ela só vem ao meu quarto pra isso. E ela sempre me dizia: “-Não se preocupe! Vai passar”. No fundo eu não acreditava, mas a gente sempre tem esperança de que vai mudar, mesmo que piore, mas era impossível que piorasse aquilo. Era sim um desperdício de vida. Os sonhos e planos daquela criatura deveriam estar guardados em algum bolso daquela trouxa enorme, mas eu nunca conseguia ver. Ela nem me deixava mexer. Passou o verão, chegou o inverno e o meu quarto continuava molhado, ela não se cansava, e o seu aspecto era de muita dor, e devia doer, eu tinha impressão de que eu também sentia sua dor. Ela sempre foi muito calada, quase nunca trocávamos palavras. Até que um dia quando adormecida em sua dor. Descobri como eu havia imaginado, num bolso bem escondido de sua trouxa, no meio de tantas tralhas, descobri coisas belas, lindas e uma carta que dizia assim: “– Dê-me um abraço bem apertado, diga-me a direção correta, mostre-me meu valor. Deixe que eu vá e, por favor, não sinta saudades, pois sobrevivo a cada saudade cultivada. Hoje me vou pra nunca mais voltar. Sinto-me livre, pois tomei coragem e descobri minha ferida. Adeus!” Fiquei abismada. Por coincidência foi a mesma carta que achei durante a ultima vez que nos vimos, quando aquela velha menina resolveu entrar no meu quarto.

Por Évilin Melo