quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Vinte e Um de Agosto

Quando o Sol não quer sair e isso perdura; acostuma-se. Vive-se tranquilo. De tão tranquilo quase não se vive. Há quem prefira. Dias chuvosos podem ser proveitosos. Ah...  Quase sempre molhar-se e ter os pés sujos da areia salpicada da água que cai forte e que parece lavar e levar tudo embora, que um dia desarmoniosamente entrou (prá dentro mesmo – se é que isso é possível), que você por vontade própria (e muita força) abandona cada dia um pouquinho. Dançar ao som do vento forte ao pé do ouvido e por frestas de relâmpago acompanhado de trovões, quando se tenta esconder dos mesmos é uma questão de triagem. Ora quer, ora não quer! Opta-se sempre por querer (por não fazer bem feito a tal da triagem).
Sensação de puro gozo, paz, calmaria, solidão... É fascinante fazer tudo isso em dias de chuva, sim, radicalmente fascinante! A chuva é sua, e de mais ninguém. Nessa dança não cabem dois, nem soma, nem acúmulos (na realidade esses acúmulos, o levaram até ali). É exílio por escolha, talvez medo. Isso é a “cara do medo”.
Espere um pouco! O Sol, outrora se recolheu, entretanto, voltou. E olhe só: nem avisou. Você nem contava com isso. Programou-se totalmente para os dias de chuvas. E claro, os nublados, você tira de letra. Comprou capa de chuva, bota de chuta, guarda-chuva e essa coisa toda de inverno. Todas as peças num tom escuro que é para combinar com os dias, óbvio. Sim, mas e o Sol? Ele está aí. E agora? Sua luz cada vez mais forte começa a fazer com que você enxergue o chão que pisa ou evita pisar – há muito tempo. Ele seca as suas roupas, que parecem não combinar em nada com o dia que Ele te dá novamente (é possível?). Cheiro de flor. De brisa. Pássaros. Gente na rua, à sua volta... Coração batendo (numa alegria - relutada, afinal o Sol parecia não voltar nunca mais). Ele está aí. E agora? Parece tão perfeito que você decide trocar a roupa e não esconder-se mais. Sensação de puro gozo, surpresa, recomeço, ímpar... As coisas começam a caber, acrescer, agregar e além de tantos sinônimos, tudo soma (que é pra ser mais). Sensação térmica para o hoje: sensação par.

Évilin Melo

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

26 Anos Após

Do mesmo modo que a vida te prega uma peça e te faz padecer de falta e vazio na alma por almejar ter, viver e ser, não necessariamente nessa ordem. Ela te puxa, quase como que numa fração de segundos – eu quis dizer puxar pra cima, no pleonasmo. Esse tempo calcula-se pelo susto do novo que sobreveio (já escrevi sobre esse tal de novo, que chega de ímpeto. Mas, esse não. Esse é diferente). O tempo que ansiamos para que as coisas aconteçam já não é tão rápido como a “fração da surpresa”, e por isso podemos ter perdido anos de espera dentro de alguns meses. É enfadonho. Uma espera que resultou em envelhecimento da alma, agora, se finda. Folga o seu grito. A respiração volta ao seu lugar. Você começa a ter covinhas na bochecha. As borboletas chegaram à barriga... A dinâmica da vida te trouxe o novo: com o arco-íris, o pote de ouro, o céu de estrelas, o beijo molhado, o abraço apertado e tudo o mais. E você, escreve sobre isso. Tudo que sempre esperou está ali e é tão bom que não sabe como reagir... Escrever poemas, sorrir sozinha, sentar na cadeira do terraço, sentir o cheiro de terra molhada, agora são parte do novo. As luzes acenderam-se! E você será eternamente grata por isso. Mesmo que “seja infinito enquanto dure”. 

Por Évilin Melo.