Aquela velha menina resolveu aparecer ontem por aqui. Saudades
eu não tinha, apesar do tempo que ela já não se fizera presente. Mas o medo era
a única coisa que eu sentia. Eu a não queria por perto, mas quando ela chega,
nem dá tempo de fechar a porta, ela é muito sutil; quando ela insistia em
aparecer passava dias e até meses. E já não há espaço pra nós duas, uma das
duas tem que ir embora quando ela esta presente e nesse caso, era eu. Isso não
é um filme de terror, mas é bem parecido, lhe garanto. Não queira jamais ver o
estrago que ela faz. Tira-te a vida. Lembro-me a primeira vez que esbarrei com
ela. Nossa! Que força de leão! E é sempre assim quando ela chega. Carrega consigo
uma carga enorme sobre os ombros, mais parece uma trouxa de roupas. Eu nunca
soube como lidar com ela, isso não quer dizer que hoje sei. Mas como eu havia
citado, ela tão sutil que a gente acaba cedendo e sem querer criamos vínculos. Sujeitei-me
aos seus caprichos e ao seu tempo. E a via por várias vezes chorar suas mágoas,
seus traumas, sua dor, seu amor. Aliás, ela só vem ao meu quarto pra isso. E ela
sempre me dizia: “-Não se preocupe! Vai passar”. No fundo eu não acreditava,
mas a gente sempre tem esperança de que vai mudar, mesmo que piore, mas era impossível
que piorasse aquilo. Era sim um desperdício de vida. Os sonhos e planos daquela
criatura deveriam estar guardados em algum bolso daquela trouxa enorme, mas eu
nunca conseguia ver. Ela nem me deixava mexer. Passou o verão, chegou o inverno
e o meu quarto continuava molhado, ela não se cansava, e o seu aspecto era de
muita dor, e devia doer, eu tinha impressão de que eu também sentia sua dor. Ela
sempre foi muito calada, quase nunca trocávamos palavras. Até que um dia quando
adormecida em sua dor. Descobri como eu havia imaginado, num bolso bem
escondido de sua trouxa, no meio de tantas tralhas, descobri coisas belas,
lindas e uma carta que dizia assim: “– Dê-me um abraço bem apertado, diga-me a
direção correta, mostre-me meu valor. Deixe que eu vá e, por favor, não sinta
saudades, pois sobrevivo a cada saudade cultivada. Hoje me vou pra nunca mais
voltar. Sinto-me livre, pois tomei coragem e descobri minha ferida. Adeus!” Fiquei
abismada. Por coincidência foi a mesma carta que achei durante a ultima vez que
nos vimos, quando aquela velha menina resolveu entrar no meu quarto.
Por Évilin Melo
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