O mundo está desistindo do amor...
As pessoas estão cansadas do verbo amar e por isso não é normal que o vejamos sendo conjugado. Tornou-se tão incomum "amar à", que qualquer forma de amor explícita nas ruas é de imediato considerada assédio. Mas, este não é o ponto.
Há - não poucas - frases de efeito, circulando no nosso cotidiano e enchendo nossa cabeça com contos de fada, princípes encantados, pessoas cor-de-rosa e etc. E isso, tem feito com que esperemos muito mais do outro do que nós mesmos poderíamos entregar ao outro.
Certa vez em minha infância, avistei de dentro do ônibus, ao longe, uma família (pai, mãe e filhos), e questionei o porquê de todos estarem ali, debaixo de um viaduto em caixas de papelão, "porque eles se amam", pensei. Eu não conhecia aquela família, porém, ela ganhou espaço dentro de mim até os dias de hoje. Era mais fácil se deixarem. É mais fácil encontrar abrigo apenas para um. Eles estariam divididos, verazmente.
Atualmente, observo amores acabando-se por falta de dinheiro e até pela disputa do "quem ganha mais", acabam-se pela falta de saúde, por incompreensão, por não aceitar o jeito do outro, até mesmo pela própria traição (o que é mais comum). O que percebo é que sempre falta alguma coisa nessas relações partidas. É a ausência de algo que faz com que o amor acabe. Mas, afinal, "quem nunca?".
Nós estamos desenvolvendo a insuficiência de amar, na velocidade da luz. Não interessa qual o tipo de amor: pela família, amigos e até mesmo pela pessoa com quem sonhamos.
Eis o xis da questão: idealizamos as pessoas, e ao invés de amá-las como elas são, fazemos com que elas adequem-se ao nosso jeito de amar. Estamos intolerantes com o outro. Queremos o bem que o outro nos dá, mas não oferecemos nada. Esquecemos que a vida real pede muito mais de nós do que o conto da Cinderela. Somos humanos para nós mesmos, mas tiramos o sangue do outro para que ele seja/faça mais por nós. Não há nada encantado por aqui. O encanto está em fazer dar certo, em fazer permanecer.
É mais fácil desistir do que continuar tentando... Tentar outra vez, cansa. "Por hoje basta, amanhã é outro dia", o que na prática, nunca o é.
O amor daquela família (a do viaduto) que tinha ausência de tudo, ao meu olhar marejado da janela do ônibus, tinha a capacidade que muitos de nós não possui mais. Se eu não estiver errada: eles tinham mais do que pude enxergar.
Obviamente, ninguém precisa demonstrar amor debaixo de um viaduto. Mas, a praticidade do nosso mundo não nos têm ajudado. Pelo contrário, quanto mais prático, mais rápido acaba.
Não obstante, ainda consigo admirar poucos amores (sobreviventes ao "ponto final"), e é claro, o término dos amores é como o calo do sapato, cada um sabe a dor que sente...
Nosso mundo está cheio de polaroides com amores não vivenciados... Tentar responder, tentar entender não me cabe. Mas, sabe qual é o problema? Penso muito, sinto muito, o tempo inteiro.
Intimamente o que eu sinto? Sinto falta de ver amores de verdade.
Por Évilin Melo.
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