Quem me tirou da minha água de proteção? Ninguém perguntou se eu queria. Mas por certo deveriam saber que eu ia conseguir. Resisti à palmada. A verdade é que aqui não é como lá. Aqui tem que ser esperto pra sobreviver. Mas por certo deveriam saber que eu conseguiria. Só não sei quando e como. Leva muito tempo pra descobrir. E eu ainda não consegui, e se consegui, foi pouco, muito pouco. Pena que eu tenha que usar o muito pra falar de tanta insignificância. É verdade sim que lá eu vivia trancada, tipo prisioneira. Mas era bom. Eu nem me preocupava em sobreviver. Tinha tudo o que queria mesmo estando sozinha. Aqui eu não sou só, conheci quem me carregava, e muitas outras pessoas. Aqui divido o espaço com quem nunca vi. Luto por sobrevivência, alias, todos aqui fazem isso. E sou livre, mas hoje estou trancada. E trancada em mim, e por mim. Não lembro das chaves, elas estão em algum lugar. Nada me cativa a ficar aqui. Perdi tudo o que eu tinha lá. Sonhos, planos, segurança. Só não o amor. Esse vive por me rodear, e por ele é que me perco no caminho de volta. Mas no fim das contas eu sei que ele é como um xarope ruim, que desce doce e cura.
Por: Évilin Melo
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